Fio visual Natalie Shau

Fotos: BlueBlack (deviantArt)

Natalie Shau

Fio replay-tido

Uma paisagem cinzenta e retorcida fazia parte daquele vilarejo nas primeiras horas da manhã. Rústicas casas se apresentavam dispostas para completar o cenário. Sua hora tinha chegado. Não sabia ao certo por qual motivo, iria terminar daquele jeito. Tentou buscar na memória, quais seriam os seus crimes. Por mais que procurasse não conseguia chegar a algum lugar. Naquela agoniada hora de espera, atada a um tronco, cercada de galhos, e tocos de madeiras, estava difícil de imaginar seus delitos. Num esforço enorme de lutar contra o medo que lhe invadia, apenas lembrou que amava a natureza, que a respeitava em todos os sentidos. Lembrava também que gostava de colocar sua opinião nas coisas, que seu crime, estava nessa terrível sede de viver, pois todo BRUXO, era aquele que enxergava um pouquinho mais além dos outros.

Tecido por

Casti

Foto: Natalie Shau

Fio assimétrico

Lágrimas brotam...
Apostam corrida
Pelas faces
Pelo corpo
Salgadas
Sentidas
Amadurecidas
Doídas
Pesadas
Mornas
Nuas
Aliviadas...

(Casti)

Foto: S. Dmitrov

Teia do dia...

Era inquieto... Por mais que realizasse e às vezes também tropeçasse, não se conformava de ser o dono parcialmente do destino... Criava, inventava, em vidro alimentava doenças para curá-las... Controlava os iguais com várias falas, riquezas com saber e agilidade multiplicava. Orgulhoso, só perdia por querer desvendar o que a ele não pertencia, empoeirava-se no sótão das lembranças para arrumar elementos primários e bater questão com Deus...

(Casti)

Foto: Alba Luna

Fios da informação

Júlian Beever, genialidade inglesa da arte tridimensional, desenha com giz nas ruas...

Fio assimétrico

Onde termino
Você continua
Inversos confessos
Sem transferência
De culpa
Olhamos o futuro
No rabo de olho
Provamos o doce
Engolindo a cicuta
Juntos
Perfeitamente
Imperfeitos
Vamos vivenciando
A labuta
No bocado
Dos dias
Fazendo
Algumas permutas.

(Casti)

Foto: Google imagem

Teia do dia...

Eles sofriam de um mal crônico que ia se alastrando tal qual uma epidemia. Todos os dias espalhavam-se pelas ruas, pegavam coletivos... Com fones no ouvido, não ouviam, nada que não fosse sobre eles ou para eles... Os óculos escuros agravavam o daltonismo, pois sentavam nos locais diferenciados, não enxergando que muitos necessitados de pé permaneciam. Tristes figuras, tão solitárias, nada solidárias, deficientes naturais, individuais...

(Casti)

Foto: Jordan Matters

Fio assimétrico

Passei
Olhei
Gostei
Comentei
Linkei

Amei
Acostumei
modernizei...

(Casti)

Foto: Google imagem

Fio visual

Foto: S&E

Fio básico

Foto: E. Chernenko

Letra: Sinal fechado (Paulinho da Viola)

Olá, como vai Eu vou indo e você, tudo bem? Tudo bem, eu vou indo, correndo Pegar meu lugar no futuro, e você? Tudo bem, eu vou indo em busca De um sono tranqüilo, quem sabe? Quanto tempo... Pois é, quanto tempo... Me perdoe a pressa É a alma dos nossos negócios... Qual, não tem de que Eu também só ando a cem Quando é que você telefona? Precisamos nos ver por aí Pra semana, prometo, talvez Nos vejamos, quem sabe? Quanto tempo... Pois é, quanto tempo... Tanto coisa que eu tinha a dizer Mas eu sumi na poeira das ruas Eu também tenho algo a dizer Mas me foge a lembrança Por favor, telefone, eu preciso Beber alguma coisa rapidamente Pra semana... O sinal... Eu procuro você... Vai abrir!!! Vai abrir!!! Eu prometo, não esqueço, não esqueço Por favor, não esqueça Adeus... Adeus...

Fioss

No fundo
Da taça
Afundo...
Nas lembranças
Que no fundo
Sóbrio
Ou embriagado
Num grande gole
Iludido chego
Até você...

(Casti)

Foto: NatArt

Fioss

Capa de revista
Sou vista
Pelo o que visto
Bem paga
Conquista
visto
Logo existo.

(Casti)

Foto: NatArt

Fiosss

Ela é dela
Quem é ela
Manuela
Sem querela
Que revela
A outra face

Sem mazela
Da feminina
Opção.

(Casti)

Foto: NatArt

Fio visual

N A T A L I E

S H A U

Teia do dia...

Não havia decidido se posaria como santa ou striper... a dúvida das situações lhe deixavam tentadores caminhos. Seria o que quisesse, tinha o poder, entre a nudez e a camuflagem, muito embora estivesse mais bem vestida se voasse para o coração de outro, envolvida na nudez do sentir...

(Casti)

Foto: N. Shau

Fio assimétrico

Recolhidas flores
Feridas ornadas
No aberto peito
Garças
Com asas partidas
Selam o destino
Com pânico
De voar...

(Casti)

Foto: N. Shau

Fio Replay-tido (Agosto2005)

Tudo era silêncio nos confins de Mandaú. A noite espreitava as pequenas casas de taipa, que se agrupavam timidamente naquele mundão de Deus. A total escuridão que se abatia sem piedade na pequena vila, só era cortada pelos pequenos candeeiros de querosene usados nas rústicas habitações e que naquele exato momento, emoldurava as feições daquela senhora. Feições talhadas no tempo, na fome e nas mãos pequenas e enrugadas que mesmo cansadas teciam sua renda de bilro...

Tecida por Casti

Foto: Mel Gama

Teia do dia

A alquimia dos aromas lhe fazia flutuar... Risos na calçada, bicicleta, joelho ralado... Salada de frutas, pretexto para um furtado beijo, o qual os sons dos talheres interrompiam a brincadeira do dia... Ela acordava, mexia novamente a panela do feijão branco, limpava a mão no avental, guardando o passado no forno, que retornava num bolo de laranja... Com os olhos ainda coloridos de lembranças chamava a criançada para almoçar.

(Casti)

Foto: H B Moura

Fios assimétricos

Presos
Numa sofisticada cela
Que a vida encerra
Simulada em polegadas
Subjugados pela tela
Tecnologia
Hoje o controle
Ontem o seletor...

Pelo caminho
A tela do carro
A bela tela
Nas cores
A teia do pintor...

A tela na rua
Sinaliza tendências
A tela
Onde o sangue sobe
Pela mulher bela
No luminoso objeto
Painel tentador...

(Casti)

Foto: Sue Anna Joe

Fio

Transpassa
Viúva renda
Pelo rosto
Que branco
Ressurge
Em cores...

(Casti)

Foto: Natalie Shau

Fio solto...

Me enriquece com teus passos, tímidos, miúdos... Pois só assim, retardarei o caminhar e terei a oportunidade de observar melhor e acompanhada os detalhes da beira da estrada...

(Casti)

Foto: A. Luna

Teia do dia...

Ele tinha uma nova missão... Assumira uma posição, precisava afugentar as aves negras que em quantidade alarmante impediam o grande pássaro de ferro pousar na pista de Parnamirim... Munido com o equipamento de última geração, apelidado de estilingue, matava dois coelhos, ou melhor, dois Urubus num só golpe... Dava uma ordem ao tráfego aéreo na pista de pouso, e relembrava oficialmente seus dias de infância... Bodoque ou estilingue?

(Casti)

Visual: wideplanet

Fio fotográfico

Fio solto

Há duas formas para viver a sua vida:
Uma é acreditar que não existe milagre.
A outra é acreditar que todas as coisas são um milagre.

(Albert Einstein)

Foto: P. Settanni

Fios da informação

www.setoque.com

Fio assimétrico

Foto: M. Kovalik

Desejos Digitais
Tecidos em redes
Amores conectados
Num orgasmo
Logo deletado
Em tempos
De cólera
Em tempos
De máquinas...

(Casti)

Teia do dia...

Junto com a tranqüilidade e beleza das horas paquerou o mar, pensou no trajeto da tortuosa vida e analisou... Um turbilhão de pensamentos que imitavam o desenrolar das ondas morria na praia do dia e renascia em mais uma onda... Sobrevivente de outras tempestades, muitas vezes sentia que navegava sem bússola pela maré futurista, prosseguindo deliberadamente na infindável procura de si.

(Casti)

Foto: Cezary G.

Fio de Sandra Sue

Um tango...

Fio de Cydney Conger

Liberdade vigiada...

Teia do dia...

Eles não tinham um relacionamento... Enrolados, enroscados, qualquer coisa que substituísse termos mais comprometedores. Era moda, trocar as palavras para suavizar as verdades, os melindres faziam distância adequada para nada com profundidade... Termos da moda caiam bem, frases feitas, coisas como manter a privacidade, independência. Ela cá e ele lá, atrás da porta dos medos, perdiam um tempo arretado, tentando manter algo que jamais descobririam individualizados...

(Casti)

Foto: G. Garcin

Fio visual

Foto: sweetshop (Dita)

Fio fetiche

Foto: V Shalom

Fio assimétrico

Palavras conduzidas
Digitadas
Manipuladas
Dirigidas
Rimadas
Pontuadas
Servis
Convincentes
Duras
Reduzidas
Vociferadas
Palavras guardadas
Caladas
Camufladas
Jogadas
Doídas
Perpetuadas
Estabelecidas
Pelo ponto
Final.

(Casti)

Fio de meia

D I T A

V O N

T E E S E

Fio fotográfico

Foto: A. Krivtsov

Fio assimétrico

Teu corpo
Desafiante cenário
Onde percorro
Onde me espalho
Com diferentes falas
Declaro
O que lá fora
Calo...
No palco vazio
Do quarto
Os vestígios do dia

Ficam no armário
Jogo fora o script
De improviso
Contigo
Ensaio...

(Casti)
Foto: J J André

Fio solto

Acostumados ou acomodados, todos os dias temos um encontro marcado com a miséria... Protegidos, pelos vidros escuros dos carros, temerosos e frustrados, observamos por breves instantes nas esquinas da vida, malabaristas recém formados com o diploma da fome e mestrado em sobrevivência. Pequenos cidadãos na rabeira da sociedade, as crianças de rua adoçam nossas bocas por algum trocado. O sinal abre, passamos à marcha frustrados ou indiferentes, em rumo ao próximo cruzamento...

(Casti)

Fotosearch
119025H

Teias do dia...

Circulou as mãos na lisa superfície do espelho... Observou as feições que ali eram projetadas, analisou cada ruga e detalhe que desse alguma pista ou lembrança... Repentinamente, identificou outra pessoa refletida, era um par de olhos agressivamente castanho e familiar... Sem meio segundo para lembrar, de um único solavanco foi puxa para dentro do espelho, levada para o mundo dos sonhos daquele homem... Coisas de Duendes, bruxas e maçãs...

(Casti)

Foto: Google imagem

Fios aloprados...

Fioss

       Hay un mundo

a la vuelta de la esquina de tu mente,

     donde la realidad es un intruso

y los sueños se hacen realidad.

(Enciclopédia
 de coisas que nunca existiram)

Teias comparadas...

Foto 1: M. Vitor
Foto 2: worth

Fio solto

E ela pensava... Perdíamos muito tempo julgando, adjetivando, qualificando, desqualificando. Sem conhecimento de causa e muita pressa para diagnósticos, íamos passando por cima da vida, dos amigos, acotovelando, dando cutucadas... Preocupados com teses e equações perfeitas, próprias certezas, deixando a oportunidade de ser um aprendiz, escapulir pelo lado.

(Casti)

Foto: S&Elen

Fio visual

Teias do dia

E ela flutuava em circulares movimentos, com lâmina afiada um oito imaginário desenhava... Na candura combinada de passos e vestimentas diáfanas despejava no chão, geometrias inspiradas... Patinadora que no conjunto da própria obra fazia arte, em base gelada...

(Casti)

Foto:

Alba Luna

Fio assimétrico

Teu corpo
Uma alcova
Onde me espalho
Escondo
Planejo
Vivo
Ensaio...
Desmaio

Morro..

(Casti)

Google imagem

Teia de palavras

Hoje
Não quero
Sentimentos assimétricos
Guardados em poesia
Nem quero o cotidiano
Das teias do dia
Nem tão pouco
Colorida fotografia.

(Casti)

Fios aloprados

EDUCAÇÃO SEXUAL
[ in Poeta que o pariu, de Rafael Maia (RJ) ]

- Mamãe, o que é boceta?
- Que horror, meu filho! Quem te ensinou a falar isso?
- O papai que falou. Ontem, conversando com o tio Pedro, ele disse que a Maria Cláudia do 302 deu a boceta pra ele. Será que ele guardou aqui na sala?
- Claro que não, meu filho! Isso não se guarda na sala... E é verdade que seu pai falou isso?
- É sim! E como ele tava rindo, achei que fosse alguma coisa legal. Mamãe, posso ganhar uma boceta no dia das crianças?
- NÃO, NÃO pode! E o seu pai é um cachorro, um safado, um canalha... Ai dele quando chegar em casa...
- Não briga com ele, mamãe. Vai ver ele pegou a boceta da Maria Cláudia pra dar pra você...
- Ai, menino! Que idéia! Isso não se dá. Não assim. E eu não preciso de mais uma...
- Por que, mamãe? Você tem uma boceta?
- Tenho, claro. Toda mulher tem...
- Ah! É coisa de mulher então. Mas por que a Maria Cláudia deu a dela pro papai?
- Isso eu também quero saber, meu filho, e como quero!
- Você já deu a sua boceta pro papai, mamãe?
- Já, já dei. Muitas vezes. Você é a prova disso...
- Por quê?
- Ai, meu Deus! Porque você saiu dela!!!
- Da sua boceta?
- É!!!
- Então é uma coisa grande...
- Mais ou menos. Mas você passou por ela quando era bebê. Todos os bebês passam...
- Mas não são as mulheres que têm os bebês?
- São sim, filho! Por quê?
- Porque se a Maria Cláudia deu a boceta dela pro papai, ela não vai poder ter bebês...
- Engano seu, menino. Agora é que ela pode ter mesmo...
- Não entendi...
- Olha, eu vou tentar explicar! Vocês, meninos, homens, têm uma coisa que nós não temos. Ou temos, só que é diferente. E essa coisa... Ah! A campainha! Vou abrir...
- Papai!
- Oi, filhão! Oi, amor! Aline, por que essa cara? Aline? Aline, volta aqui!!!
- Ih, pai! Acho que ela não gostou de você não ter contado pra ela que ganhou a boceta da Maria Cláudia.
- Co...co...como assim, menino? Que história é essa?
- Ah, pai, você sabe. Eu ouvi você e o tio Pedro conversando ontem à noite e contei tudo pra ela...
- RICARDO ALVARENGA JR.! EU JÁ NÃO TE FALEI QUE FAZER FOFOCA É MUITO FEIO. Isso é coisa de mulher...
- Ah, papai... Boceta também é coisa de mulher. E você tem uma...
- Ai, ai, ai, menino! Não me responda... Bom, depois nós conversamos. Agora vou ter que falar com a sua mãe.
- Papai, só me diz uma coisa...
- O que, Ricardo?
- Algum dia uma menina vai me dar uma boceta?
- Vai, vai sim.
- E eu vou gostar?
- Bom, assim eu espero...
- E eu vou poder contar pra alguém como você contou pro tio Pedro?
- Vai, Ricardo! Só não vai poder contar pra sua mulher e pros seus filhos, senão vai dar confusão.
- Tá bom, papai. Vou me lembrar disso. Papai? Papai? PAPAI? Volta aqui, você ainda não me falou o que é uma... Ah, desisto! Que gente mais complicada. Vivem dando e recebendo um negócio que eles nem sabem explicar o que é... Também não quero mais saber. Vou assistir televisão. Quero ver o Gugu pra saber quem é a nova loira do Tchan. Vai ver assim eu esqueço essa história de boceta...